Há alguns trabalhos revelando que a dor de cabeça é um sintoma menos comum nas infecções por COVID-19. Mas outros indicam que a incidência de cefaléia aumenta em mais de 5 vezes nos portadores de COVID-19, podendo chegar a mais de 50% dos casos.
Ela tende a ocorrer mais frequentemente em mulheres, em jovens, nos que já tinham dor de cabeça primária prévia, e também comumente vem associada a anosmia (perda de olfato), ageusa (perda da gustação) e dor muscular. Alguns trabalhos revelaram que a cefaléia foi o sintoma que mais incomodou em cerca de 9% dos pacientes.
E parece que a dor de cabeça pode ser um marcador de menor gravidade e mortalidade da doença como um todo. Os pacientes com cefaléia tiveram menos necessidade de ventilação mecânica, e também apresentaram outros sintomas menos graves: fadiga, calafrios, febre, dor de garganta, dor muscular, perda do olfato e gustação.
Nos pacientes com COVID-19 a dor de cabeça normalmente é um sintoma precoce, sendo o 1º sintoma em cerca de 25% dos casos e ocorrendo no 1º dia de sintomas em cerca de 40% dos casos. O padrão de dor mais frequente é o de uma cefaléia do tipo tensional. A dor se comportou de forma diferente à dor de cabeça prévia de 47 a 80% dos casos.
A cefaléia é geralmente bilateral, com intensidade moderada a forte, podendo estar associada a fotofobia (30-40%), fonofobia (30-40%), náuseas/vômitos (15-30%).
Pode também se comportar como uma cefaléia primária da tosse (16,4%) ou cefaléia contínua (15%), com duração média de 15 dias.
Há várias hipóteses dos mecanismos causadores desta cefaléia: lesão viral direta, inflamação sistêmica ou no sistema nervoso central, hipoxemia, distúrbio da coagulação ou distúrbio vascular? Ainda não se tem certeza.
Em caso de persistência ou refratariedade da dor de cabeça deve-se investigar possíveis complicações neurológicas da COVID-19: encefalite, meningite, AVC isquêmico ou hemorrágico e trombose venosa cerebral. É claro que o exame físico neurológico também é fundamental nestes casos.
Alguns trabalhos revelaram aumento da pressão intracraniana detectada por aumento de pressão no líquor, muitas vezes sem edema da papila óptica e com exame de imagem do cérebro normal. Porém, em outros casos associados a anosmia, observou-se sinais de sangramento no bulbo olfatório na ressonância nuclear magnética de crânio. Foi também observado que a presença de febre e desidratação aumentavam a intensidade da cefaléia.
O tratamento foi feito com paracetamol, anti-inflamatórios, dipirona ou triptanos, com resposta completa em 26% e parcial em 54% dos casos.
A persistência da cefaléia após a resolução da infecção aguda pela COVID-19 (cefaléia pós COVID), tem sido frequentemente relatado. Em alguns trabalhos a cefaléia persistiu de 14 a 43% dos casos. Em 10% dos casos a dor de cabeça persistiu por mais de 3 meses.
Esta persistência é considerada a cefaléia persistente e diária desde o início (CPDI), entidade comum após infecções virais, como vírus epstein-Barr, vírus da herpes simples, citomegalovírus, varicela zoster ou da dengue. A causa hipotética é de uma resposta imunológica pós viral. Pode ser causada também por cirurgias com intubação orotraqueal. Ela é descrita como apresentando duração maior ou igual a 15 dias até 3 meses, e o paciente sabe exatamente a hora que começou. Mas devem ser afastadas cefaléias secundárias a outras complicações.
O tratamento da CPDI deve ser de acordo com a característica da dor: como uma enxaqueca, como uma cefaléia tensional, mas até corticóide pode ser utilizado.
Fonte: Sampaio Rocha-Filho e Eudes Magalhães. Cephalalgia, 2020
Ellul et al. Lancet Neurol. 2020:39(9)767-783
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